Sabe o que mais machuca a gente de verdade? A família. Eu digo isso porque pelo menos pra mim é assim. Sei que tem um monte de gente que nem liga pra isso, mas tenho certeza que lá no fundo a única coisa que quer mesmo de verdade é ouvir “eu te aceito do jeito que você é...”. Todo mundo quer isso. Eu sou do interior, meu pai trabalhava muito fora de casa e geralmente passava um tempão sem ver a gente. Minha mãe trabalhava o dia todo e eu era a responsável por tudo. Eu era a mais velha. Na verdade eu tinha 14 anos, mas já era a mais velha da casa. Ainda não era mulher, claro. Isso veio depois. Mas era como se fosse a mãe, porque eu tinha dois irmãos mais novos e aí eu que tinha que cuidar. Talvez isso que faça doer mais, sabia? Depois que eu assumi de verdade a minha mãe disse pra todos dentro de casa, lembro como se fosse hoje “ele sempre foi assim, vocês que nunca enxergaram direito quem ele era”. Meu irmão disse na minha cara, olhando nos meus olhos “você não é meu irmão, nem sei quem você é. Você não é dessa família. Pode ir embora”. Meu irmão disse isso. Meu irmão. Eu o peguei no colo. Coloquei comida na boca dele. Se não fosse por mim, quem ia dar comida pra ele? Ele precisou de mim. Agora eu preciso dele e é isso que tenho. Tive que agüentar muita coisa, mesmo depois de já saber o que eu era e o que eu queria. Foi então que meu avô me chamou num canto e disse “Meu filho, não tenho muita coisa, só tenho esses quatrocentos reais, se você acha que dá pegue suas coisas e vá ser feliz. Você é lindo, eu te amo muito. Mas aqui você não é feliz. Vá viver sua vida”. Ele disse isso com os olhos cheios de lágrimas. Foi a última vez que vi ele. Soube a dois dias atrás que ele morreu. Até hoje estou tentando juntar uma graninha pra voltar pra casa e rever a família. Que família, não é? Também não sei.
(Foto: Velma Zehd)
domingo, 28 de fevereiro de 2010
terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
ENGENHARIA ERÓTICA - UMA FÁBRICA DE TRAVESTIS
Este é o terceiro trabalho da trilogia sobre minha pesquisa a respeito universo das travestis. Trata-se do que venho chamando de "TEATRO DOCUMENTÁRIO". Não pretendo com isso criar um novo tipo de teatro, mas me faz bem divulgá-lo desta forma, pois foi assim que foi concebido. O espetáculo é uma apresentação do universo das travestis a partir do livro ENGENHARIA ERÓTICA - TRAVESTIS NO RIO DE JANEIRO (Hugo Denizart) e de 6 anos de pesquisa com travesti de quase todo o Ceará. Fiz várias entrevistas e armazenei uma bagagem muito grande de informações. É uma inquietação minha como artísta fazer as pessoas refletirem sobre discriminação por condição de vida e não por história de vida.
O espetáculo são vários recortes, não existe uma dramaturgia aristotélica ou um fio condutor entre as cenas. O que existe é um tema, um campo social, a idividualidade dentro de um todo.
UMA FLOR DE DAMA, não disse tudo que eu queria dizer sobre essas figuras que tanto me encantam. CABARÉ DA DAMA foi uma experiência para isso que quero vivenciar agora. FÁBRICA DE TRAVESTIS é o subtítulo que na verdade vai de encontro às críticas da minha classe artística que andaram afirmando "O Silvero não faz mais teatro, agora quer ser trava e ainda pega os alunos do CPBT, CEFET e CAD pra serem também...é uma Fábrica de Travestis".
Quero que em ENGENHARIA ERÓTICA - UMA FÁBRICA DE TRAVESTIS as pessoas vejam que ainda há muito o que se saber e a falar sobre essas meninas e que nem nesse espetáculo vou conseguir dizer tudo. Pode até ser que venha o 4º (rs). Não sei, só sei que enquanto me doer como artista, vou fazer e da forma mais digna e agradável possível.
Ficha:
Direção: Silvero Pereira
Texto: Silvero Pereira e Hugo Denizart (Além de todas as travestis entrevistadas)
Elenco: Jomar Carramahos, Diego Salvador, Denis Lacerda e Silvero Pereira
terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
Festival de Guaramiranga 2010
Apresentação da Tenda do SESC na Programação do Te-Ato a Meia Noite do XV FNT de Guramiranga (Foto Lima Filho)
CABARÉ DA DAMA - ÚLTIMA APRESENTAÇÃO
Foi no último dia 30 de ajneiro de 2010, na Sala Nadir Papi Sabóia do Theatro José de Alencar que encerramos nossa temporada de Janeiro do espetáculo CABARÉ DA DAMA, na ocasição encerrmos também o DIA DA VISIBILIDADE TRANS em Fortaleza onde recebemos da Coordenadoria da Divercidade a Comenda Janaína Dutra como iniciativa contra Homofobia e Transfobia naCapital Cearense.
O espetáculo dá um tempo na cidade e se dedica a projetos como festivais e temporadas fora do Estado. Além de dar espaço para o novo espetáculo ENGENHARIA ERÓTICA- UMA FÁBRICA DE TRAVESTIS que estreia em Abril deste ano, tendo no elenco: Jomar Carramanhos (Verônica Valentino), Denis Lacerda (Deydiany Piaf), Diego Salvador (Yasmim Shirran) e Silvero Pereira (Gisele Almodóvar). Este último também assina a Direção. O espetáculo tem como formato o que o Grupo veio intitular de TEATRO-DOCUMENTÁRIO, partindo do livro do Fotografo e psicanalista HUGO DENIZART (Engenharia Erótica - Travestis no Rio de Janeiro) e de varias horas de entrevistas com travestis de quase todo o Estado do Ceará.
O espetáculo dá um tempo na cidade e se dedica a projetos como festivais e temporadas fora do Estado. Além de dar espaço para o novo espetáculo ENGENHARIA ERÓTICA- UMA FÁBRICA DE TRAVESTIS que estreia em Abril deste ano, tendo no elenco: Jomar Carramanhos (Verônica Valentino), Denis Lacerda (Deydiany Piaf), Diego Salvador (Yasmim Shirran) e Silvero Pereira (Gisele Almodóvar). Este último também assina a Direção. O espetáculo tem como formato o que o Grupo veio intitular de TEATRO-DOCUMENTÁRIO, partindo do livro do Fotografo e psicanalista HUGO DENIZART (Engenharia Erótica - Travestis no Rio de Janeiro) e de varias horas de entrevistas com travestis de quase todo o Estado do Ceará.
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